15/07/2013

Correntes de Gelo - O mundo seco (segunda parte)

O mundo seco - O elo segundo Hil

continuação...

     O sol recém-nascido no horizonte começou a mostrar seus primeiros raios quando acordei em desespero, meio sem saber onde eu estava, o que é bem comum de quem acorda de pesadelos, muito cansado mas sem nenhuma disposição para voltar a dormir.
No meio da tarde fui com meus amigos Junior e o Breno jogar sinuca e tirar algumas fotos antes do casamento, uma tarde só de homens era nossa ideia para uma boa despedida de solteiro. O nervosismo do dia já apagara todos os espantos da noite e como já havia dito antes, novamente a vida me consumiu e acabei esquecendo o sonho que tive. Tudo passou tão rápido que quando dei por mim já estava de terno, entrando com minha mãe ao meu lado em direção ao reverendo Juliano. Em seguida entraram os padrinhos, todos juntos e cada um deles se posicionaram atrás de uma cadeira, depois entraram as madrinhas, todas juntas também e se sentaram nas cadeiras em frente de seu respectivo par. Em seguida entraram duas senhoras, as duas avós da Valentina levando as alianças. A música mudou suavemente, eu me sentia meio bobo, desajeitado na frente de todo mundo. Não sabia se estava sorrindo ou com o rosto completamente desfigurado parecendo um palhaço devido ao nervosismo.


     Com a música que me inebriava, entra vagarosamente minha futura esposa, minha pequena, linda com seu vestido branco, delicada e romântica como sempre, vindo em minha direção. Senti como se meu coração parasse por alguns segundos, estava anestesiado de felicidade naquele momento. Enquanto ela se aproximava de mim, deixei escapar um - Nossa como ela está linda! - o que fez com que algumas madrinhas que estavam mais perto e ouviram meu suspiro, segurassem o riso.
     Mas fui arrebatado deste sentimento, neste instante um sussurro soprou em meu ouvido. – Eu não me esqueci! – pareceu que alguém baforava um sopro forte e quente na minha nuca. Com calafrios me lembrei do sonho que tive de noite, e cada palavra que aquele homem me disse passaram em minha cabeça como um filme. Minhas forças foram sumindo a visão estava nublada, mas mesmo no borrão pude observar que havia alguma coisa na porta de entrada, pude reconhecer aquela criatura horrenda e corpulenta de três cabeças. – Senhor socorro! – disse em pensamento e desmaiei.
     Acordei lentamente, ouvindo vozes distantes que se aproximavam aos poucos, reconheci minha mãe pedindo carinhosamente para eu acordar, meu sobrinho pedindo para chamarem o resgate e a voz da Valentina segurando o choro, soluçando me chamando de coração. Tentei fazer de conta que eu estava bem, me levantei ergui a mão acenando e sorrindo – Não foi nada! É que você me deixa assim meu amor! – disse sorrindo para Valentina. Pude ver o Léo de mãos dadas orando, e atrás dele, como se fosse um fantasma pálido daquela criatura horrenda segurando e apertando seu pescoço.
     A criatura parecia queimar ao encostar nele e por isso não conseguia segurar por muito tempo e desapareceu no ar. Corri na direção dele para socorrê-lo, ele parecia estar sufocando, ficando roxo, sem ar, quase desmaiando. Sua esposa Cybele percebeu e o chamou, o Junior o segurou antes de cair. Peguei um guardanapo de pano que estava sobre uma mesa para abaná-lo e acabei esbarrando numa taça que caiu e quebrou, chamando a atenção de quase todo mundo na festa para o que estava acontecendo a ele. Eu tentava juntar meus pensamentos e lembrar do sonho, procurando encontrar algum sentido nestas coisas que estavam acontecendo. Quando finalmente melhorou, sua esposa o abraçou fortemente e mesmo desesperado do jeito que eu estava, neste pequeno gesto, por um instante eu pude me lembrar do motivo pelo qual eu estava ali naquela noite. O Léo tentou se levantar mas estava meio fraco, eu e o Junior o levamos para fora enquanto Valentina foi conversar com seus pais. Cybele, veio atrás de nós com o irmão do Léo, Lucius e sua esposa Adriene.
     - Precisamos conversar! – O Léo disse olhando para o Junior. Neste instante, tive uma sensação de epifania, como se eu finalmente pudesse compreender uma brecha do que estava acontecendo, mas antes de formular algo concreto a sensação desapareceu. Então o Léo olhou bem fundo nos meus olhos, como quem pede socorro, sabendo que eu estava a par do que ele falava.
     - Léo, nesta noite eu sonhei com isso! – disse trêmulo, num tom baixo em seu ouvido, o abracei forte, dando e procurando conforto para o desespero que compartilhávamos.

continuação...