17/07/2013

Correntes de Gelo - A festa gelada (terceira parte)

A festa gelada - O elo segundo Hil.

continuação...

     Após vários minutos o casamento continuou conforme o planejado, eu cheguei até a imaginar que o pior já havia passado e aos poucos comecei a relaxar novamente. Valentina e eu fizemos nossas votos de amor, depois que ela entrou novamente pelo corredor central, nessa altura não imaginava que me atingiria com a mesma intensidade o sentimento que me tomara quando ela entrou a primeira vez por aquele corredor. O reverendo fez uma cerimônia curta e soube escolher perfeitamente as palavras. Esqueci quase completamente as coisas ruins que ocorreram quando ela me disse - Eu sempre te amei!
- com sua voz meiga e suave após o reverendo dizer – Pode beijar a noiva! - Fomos tirar fotos pela cidade e em menos de meia hora estávamos de volta.
     Jantamos com os convidados enquanto ouvíamos uma música suave e apreciávamos a comida do restaurante que estava excelente. Pouco antes de começar a festa já havíamos cumprido com nossos deveres, comuns a todos os casamentos, de conversar e tirar fotos com todos os convidados. Acabei deixando por último a mesa onde estava o Léo e o Junior, nem sei se foi involuntariamente ou não, mas quando cheguei fiquei apreensivo, com medo de quais conversas iriam surgir. No fundo eu queria poupar a Vá, jeito carinho pelo qual chamo a Valentina, de conversas sobre aquelas visões horríveis. Não que eu não confie nela, mas ela tende a ser muito sensível com essas coisas e se apavora muito facilmente. Ela acredita que sou muito cético e que não acredito em nada que toque o mundo sobrenatural porque eu ajo friamente nessas situações.

     A verdade é que eu acredito em milhares de coisas que muita gente nem sonha e não nego a existência de nada disso, sejam anjos, demônios ou espíritos, o que eu aprendi com o passar dos anos é que a maioria das baboseiras que se ouvem por aí são apenas baboseiras mesmo e as coisas importantes estão sempre ocultas aos nossos olhos, como se existisse alguma entidade inteligente procurando nos iludir. Seria uma tremenda mentira dizer que não acredito no mundo espiritual, pois no final das contas, todo meu passado, assim como o do Léo e de alguns poucos amigos é impregnado de experiências com o sobrenatural. Acabei apenas me habituando a estas coisas e já não entrava em desespero facilmente.


    A festa estava começando e as pessoas estavam indo dançar o Léo me chamou e eu sabia que o assunto não poderia ser outro, deixei a Valentina com umas amigas e fui com ele até lá fora, a Cybele nos acompanhou com os olhos cheio de Lágrimas, creio eu que ainda estava preocupada com ele devido ao quase sufocamento. Ele me contou que quando esteve apagado viu o Junior esmagando uma criatura pequena e demoníaca, pisando em cima dela, falou sobre ouvir sussurros, e eu expliquei sobre ter visto aquela criatura grotesca de três cabeças tentando sufoca-lo. Ele se lembrou que havíamos visto três cabeças parecidas com bruxas na janela de casa quando éramos adolescentes. Como ele se lembrava perfeitamente do ocorrido, ficamos conversando procurando lembrar de outras situações que poderiam estar relacionadas.
     - Eu sabia que algo assim iria acontecer, só não esperava que seria hoje, sabe é meu casamento! – disse dando uma risadinha mais vinda da insatisfação do que do humor.
     - Hil, me parece que... – ele fez um silêncio e continuou. - Aquelas coisas voltaram e não querem a gente aqui hoje! O pior é que mais gente pode estar em perigo desta vez! – nessa hora pensei na Marisa, esposa do Junior, a quantos riscos ela estaria se submetendo, principalmente neste momento da vida dela, grávida de oito meses.
     - Como está seu relacionamento com Ele? – perguntou meio desajeitado. Ele mais do que ninguém sabe o quanto essa questão pode ser interpretada erroneamente, mas eu o conheço como se fosse meu irmão e sabia exatamente qual era sua preocupação.
     - Não anda nos melhores dias Léo, ando muito atarefado com o trabalho, os estudos e as preparações do casamento! - Ultimamente eu apenas dava graças, e não estava dedicando um tempo de qualidade para meditar. No fundo sabia que podia ser sincero pois ele também não me interpretaria de forma errada.     - Entendo! Só acho que depois desse ocorrido precisamos de preparativos, temos que nos cuidar melhor espiritualmente! Venha aqui vamos orar, pedindo uma benção dos Céus!


     Ao fecharmos os olhos ele disse: - Senh... - um clarão repentino que foi perdendo a intensidade, nos revelou um brilho esmaecendo, vindo de dentro do salão. O estacionamento estava deserto, sem pessoas, sem carros e sem vida alguma, literalmente nem insetos, nem pássaros cantando, nada, A escuridão parecia engolir o lugar, não enxergávamos nada no horizonte, só uma névoa estranha que escondia tudo a uns vinte metros de distância.

continuação...